Nos filmes Saw, o terror é físico, sangrento e imediato. A vítima despera algemada a um cano num quarto sujo, paredes cobertas de ferrugem e manchas de sangue seco. A respiração é pesada, o pânico é instantâneo. Um monitor ganha vida. O boneco de rosto branco aparece em vídeo e a voz metálica dita as regras: “Queres viver ou morrer? A escolha é tua.”
Seguem-se provas macabras. Um homem serra a própria perna com um serrote enferrujado para alcançar a chave que o liberta. Uma mulher é forçada a rasgar o estômago do companheiro ainda vivo para encontrar um objeto escondido. Máscaras metálicas fecham-se lentamente como armadilhas de urso, esmagando crânios. Corredores cheios de lâminas afiadas cortam a pele a cada movimento. O espetáculo é gore: sangue a jorrar, ossos expostos, gritos a ecoar. A lógica, contudo, é clara. Cada armadilha obedece a uma regra. A vítima sabe o que deve fazer, por mais monstruoso. Há sempre um fim: sobreviver cumprindo a instrução ou morrer ao falhar.
Agora, o contraste.
No V2K (Voice to Skull) e no RNM (Remote Neural Monitoring) (Link) não há correntes, não há sala ensanguentada, não há monitor com boneco a dar instruções. A prisão não está no corpo, está no cérebro. A tortura não dura horas, mas anos. Não existe libertação. Em alguns programas, não há sequer instruções: apenas vozes hostis, ruídos que destroem o sono, estímulos que desencadeiam medo e ansiedade. Em outros, há comandos — “faz isto, senão acontece aquilo” — mas não passam de ordens falsas, contraditórias, sem saída. São regras que simulam lógica, mas foram criadas apenas para corroer. Patentes norte-americanas sobre o microwave auditory effect já descreviam estas técnicas nos anos 70, e especialistas como o Dr. Robert Duncan, ex-CIA, confirmaram que foram aplicadas em operações de guerra psicológica. Oficialmente chamam-lhe efeito auditivo por micro-ondas, mas a engenharia real opera em ELF, frequências extremamente baixas, capazes de penetrar no cérebro e no sistema nervoso com maior precisão.
Aqui, o gore é invisível mas não menos real. Vozes repetem frases de forma hipnótica até a mente ceder. Sons agudos surgem no silêncio da madrugada, como lâminas a cortar o sistema nervoso. Imagens artificiais são projetadas diretamente no cérebro: vultos a surgir no canto do quarto, sombras que se movem contra a vontade do olhar, figuras mortas a falar como se estivessem vivas. O olfato também é manipulado — odores de podridão, carne queimada ou enxofre surgem sem fonte. Até o tato pode ser usado: choques elétricos fantasma, picadas que parecem agulhas a perfurar a pele. As agressões incluem violações remotas no ânus, induzidas diretamente no sistema nervoso, fazendo a vítima sentir todos os efeitos físicos sem contacto humano. Tudo criado para dar a sensação de tortura física sem deixar marcas.
Hoje, a NATO fala de Cognitive Warfare — a guerra pelo domínio do cérebro humano. Oficialmente, descrevem manipulação de informação, propaganda e operações psicológicas em larga escala. Mas é impossível não ligar esse conceito ao que já se desenvolveu em armas de energia dirigida e tecnologias de controlo neural, capazes de invadir o sistema nervoso e transformar o corpo humano em campo de batalha invisível. Já em 1999, o Parlamento Europeu alertava para este perigo na resolução A4-0005/1999 (Link), pedindo uma convenção internacional para uma proibição global de qualquer investigação que aplique conhecimentos do cérebro humano em armas “que possam permitir qualquer forma de manipulação de seres humanos”. Em 2003, uma nova pergunta escrita (E-1453/03) (Link) voltou a cobrar a Comissão Europeia sobre o mesmo ponto, questionando que passos tinham sido dados para aplicar essa proibição.
Enquanto Saw corta carne e parte ossos, V2K e RNM vão mais fundo: fragmentam pensamentos, distorcem perceções, manipulam emoções, sabotam o sono, inserem vozes e imagens artificiais, impõem medos e fobias, alteram impulsos do corpo, controlam estímulos sexuais, manipulam o olfato com cheiros artificiais e até provocam dores ou violações remotas. A diferença é radical: no filme, o corpo é despedaçado mas a mente decide até ao fim; no controlo mental, é a mente que se torna a vítima direta, sem hipótese de escolha.
O horror de Saw choca porque é explícito, teatral e limitado. O horror de V2K e RNM é real e supera-o porque é invisível, silencioso e interminável. O primeiro termina em morte ou fuga; o segundo prolonga-se sem conclusão, um jogo eterno que nunca oferece vitória.
E tudo isto acontece com o apoio silencioso dos Estados, dos governos, das elites, das corporações e das organizações de inteligência. Estruturas que financiam, ocultam e legitimam esta engenharia invisível da mente. A vítima não enfrenta apenas operadores anónimos: enfrenta sistemas inteiros que transformam o cérebro humano e o sistema nervoso em campo de teste e de controlo.
No fim, a vítima não pode recorrer a hospital, polícia ou qualquer autoridade. Será imediatamente classificada como louca, internada à força e medicada para tratar uma doença que nem é real, mas sim induzida com tecnologia extremamente avançada. No fim, a vítima não pode recorrer a hospital, polícia ou qualquer autoridade. Será imediatamente classificada como louca, internada à força e medicada para tratar uma doença que nem é real, mas sim induzida com tecnologia extremamente avançada. Não existem leis que reconheçam armas neurais militares, e os responsáveis continuam impunes, a circular livremente, a cheirar cocaína no Lux Frágil e no Harbour Music Shelter (Link), a beber whisky na discoteca Lust In Rio e no bar Old Vic — a rirem-se e a gozarem das vítimas, que são vistas pela sociedade como doentes mentais ou como teóricos da conspiração.
Setembro 2025
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