Nos últimos anos, cresceu a histeria em torno dos perigos do Wi-Fi. Multiplicaram-se artigos, vídeos e produtos “milagrosos” prometendo proteger as pessoas das supostas radiações mortíferas dos routers domésticos. Enquanto isso, o verdadeiro inimigo continua a expandir-se sem oposição: as redes móveis de telecomunicações, 3G, 4G e agora 5G.
A realidade é simples: o Wi-Fi é apenas uma fração do problema. Os routers emitem em frequências como 2,4 GHz e 5 GHz, mas com potências muito baixas, destinadas a cobrir apenas a casa ou o escritório. Um router típico transmite com cerca de 100 mW de potência, o suficiente para alguns metros de alcance. Em contrapartida, as antenas das torres de telecomunicações operam com vários watts, atingindo distâncias de vários quilómetros, atravessando paredes e corpos humanos sem parar. As torres nunca dormem. Estão a irradiar constantemente, 24 horas por dia, 7 dias por semana, criando uma camada invisível de smog eletromagnético que ninguém consegue desligar.
O mais perverso é que o próprio **smartphone**, quando com dados móveis ligados, funciona como uma micro-antena. Se estás longe da torre, o smartphone aumenta automaticamente a potência de emissão, bombardeando o teu cérebro e os teus órgãos internos com níveis muito superiores ao Wi-Fi de casa. Ninguém fala disso. Poucos querem admitir que ter o smartphone colado ao ouvido em chamada 4G ou 5G é, de longe, a maior fonte de exposição individual que existe atualmente.
Não estou a dizer que o Wi-Fi é bom ou inofensivo. Não é. Mas quando se analisa a escala dos riscos, o Wi-Fi simplesmente não está no topo dos piores. Existem fontes de radiação muito mais agressivas e invisíveis que a maioria prefere ignorar.
Porque é que culpam mais o Wi-Fi? Porque é mais fácil vender soluções. Vendem-se capas, autocolantes, neutralizadores e dispositivos mágicos que supostamente “protegem” contra o Wi-Fi, enquanto escondem o verdadeiro problema: as torres e a dependência dos dados móveis. Atacar o Wi-Fi doméstico cria uma sensação falsa de segurança e ao mesmo tempo movimenta milhões em produtos inúteis. Mesmo os panos ou capas que cobrem routers apenas reduzem o sinal — não eliminam a emissão. Atacar as torres seria mexer nos interesses pesados das grandes operadoras de telecomunicações e dos governos, algo que os especialistas de internet e influencers evitam cuidadosamente.
O Wi-Fi é real? Sim. Emite radiação de micro-ondas que pode afetar a saúde a longo prazo, principalmente se se dormir ao lado do router ou de um smartphone a emitir sinais toda a noite. Mas colocar o Wi-Fi como o principal culpado é um teatro montado para proteger o verdadeiro sistema de controle: o emaranhado de torres, satélites e dispositivos móveis que cobrem o planeta numa teia de ondas artificiais.
Se queres reduzir a tua exposição, a solução não é comprar gadgets de proteção Wi-Fi. É desligar os dados móveis quando não precisas — a principal fonte de radiação contínua —, usar o Wi-Fi de forma consciente, sem o tratar como ameaça principal, e preferir ligações por cabo sempre que possível. E sobretudo: exigir responsabilidade pública sobre a instalação massiva de antenas cada vez mais poderosas e invisíveis. Mas isso implicaria enfrentar o verdadeiro poder — e ninguém quer esse problema.
Maio de 2025
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