A fraude dos agentes de inteligência

Passei anos a observar e a analisar o mito dos agentes das organizações de inteligência. Fui atrás da imagem vendida por Hollywood — James Bond com a sua elegância, Ethan Hunt com as acrobacias impossíveis, Jason Bourne com a frieza calculista. A promessa era sempre a mesma: agentes com classe, tecnologia futurista e movimentos executados ao milímetro. Vi recentemente filmes como The Amateur (2025) e Mission: Impossible – The Final Reckoning (2025), entre muitos outros. Fui iludido. Na realidade, os agentes não são nada disto. São uma caricatura.

Muitos têm QI alto, falam várias línguas, exibem diplomas e formação de topo. Mas QI não é inteligência estratégica. QI não é visão. E na prática falham em antecipar movimentos óbvios, vivem reféns da burocracia, das hierarquias podres e das intrigas internas. São como computadores caros a correr software obsoleto.

Entram no sistema muitas vezes por cunhas, favores ou contactos — não por mérito real. Resultado: mediocridade mascarada de elite. Não têm intuição, não sabem ler linguagem não-verbal, não percebem pessoas. A diferença entre mito e realidade é grotesca: o cinema mostra classe, precisão e astúcia; na vida real, o que se vê é banalidade. Agentes que tropeçam nas próprias operações, perseguem fantasmas, gastam recursos a vigiar irrelevâncias e deixam escapar o essencial. No ecrã, parecem deuses invisíveis. Na realidade, são nulidades arrogantes, convencidas de que sabem algo — uma versão deprimente do Mr. Bean.

No fim, todos iguais: fantoches vaidosos, convencidos de que controlam o tabuleiro, quando na realidade não passam de peças descartáveis. E não se enganem: além de incompetentes, são corruptos. Vendem informação, vendem proteção, vendem silêncio. A corrupção infiltra tudo, da base ao topo. Não são guardiões da lei, são comerciantes de influência.

O mais triste é perceber que a imagem cinematográfica nunca existiu. Não há glamour, não há honra, não há super-homens. Só carne fraca, vícios, limitações, medos. No fim de contas, são mortais. E quando se arranca a máscara, sobra apenas um bando de marionetas patéticas a representar um papel para manter a ilusão de poder.

Agosto 2025

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