A vingança é natural. Está inscrita no código genético do ser humano. Só a civilização moderna — essa construção artificial que transforma predadores em cordeiros — ousa chamá-la de errada. A religião diz que é pecado. A psicologia diz que é trauma. Os espiritualistas dizem que devemos entregar tudo ao “universo”. Tudo mentira. Tudo engenharia social para domesticar a tua fúria legítima. A gratidão não dá prazer. A vingança, sim. Profunda, quente, justa. É um bálsamo primitivo. A vingança dá sentido onde houve destruição. A missão de ajustar contas é um motor interno. Elimina a fraqueza e restaura o equilíbrio.
O sistema sabe disso. Por isso quer a vingança criminalizada, abafada, enterrada. Um homem vingativo é perigoso. Não esquece, não se submete, não baixa a cabeça. É uma ameaça ao teatro social. A vingança é uma das últimas expressões de autonomia radical. E é por isso que foi transformada num tabu moral. Os fracos perdoam para sobreviver. Os fortes esperam para destruir.
Este sistema nunca ofereceu justiça. Apenas controlo. Apenas encenação para manter a ordem estabelecida. Justiça verdadeira nunca veio dos tribunais. Nunca veio das leis. A justiça real nasce da tua memória, do teu tempo e da tua acção. O sistema não procura justiça — procura obediência. Está corrompido desde a base. Quem espera por justiça institucional vive curvado.
Os grandes homens da história não fugiram da vingança. César Bórgia esmagava quem o traía sem hesitação. Maquiavel percebeu cedo: os bons não vão longe. Só os impiedosos governam. Genghis Khan dizimava linhagens inteiras por traições mínimas. A vingança deles não era impulso. Era táctica. Era aviso. Era domínio. Eles não pediam desculpa por agir. Mostravam que ninguém fere impunemente.
Guardar a dor sem agir cria doença. Fica no corpo. Cria feridas internas. Corrói o sistema nervoso, destrói o espírito. A não-vingança transforma-se num tumor psicológico. A vingança limpa. Purga. Reprograma. E, se for bem executada, educa todos à volta. Ensina que contigo ninguém brinca. É a tua memória que protege o teu território. Esquecer é traição interna. Perdoar sem justiça é submissão disfarçada.
O sistema moderno quer-te dócil, anestesiado, apático. Diz que tudo se ajusta por si. Que o karma resolve. Que o universo equilibra. Mentira conveniente. Quem não se vinga vive frustrado, curvado, emocionalmente mutilado. A verdadeira vingança não precisa de ser imediata. Pode esperar anos. Pode ser feita em silêncio. Mas tem de chegar. Tem de marcar. Tem de fazer tremer.
O tempo é uma arma. Não é calmante. Não é cura. É estratégia. Quem sabe usar o tempo destrói sem ser visto. O tempo só aumenta o impacto da queda. Só amadurece o castigo.
Vingar-se não é perder o controlo. É recuperá-lo. É olhar para quem te feriu e devolver tudo com juros. Seja com poder, reputação, humilhação pública ou ruína lenta. O método varia. O propósito é sempre o mesmo: equilíbrio restituído. Quem te feriu tem de pagar. Nem que demore quarenta anos. Nem que tenhas de cortar a raiz de tudo o que te destruiu. A justiça real é tua. A vingança é o instrumento. Quem te feriu tem de saber que não passou impune. Tem de sentir o peso da resposta. Tem de temer o regresso do que pensava esquecido. Caso contrário, viverás curvado, mudo, infeliz, com o sabor do fracasso preso na garganta.
Portanto, que fique claro: não há nobreza no esquecimento. Apenas fraqueza disfarçada. Não há evolução no perdão forçado. Apenas submissão. A vingança é raiz. É animal. É sagrada. Quem não se vinga, não vive. É enterrado em vida. Escolhe: ser leão ou ser cordeiro. E lembra-te: o tempo não apaga nada. Apenas amadurece o castigo.
Esquece o que a sociedade diz. Ouve o teu instinto. A tua dor é legítima. A tua raiva é justa. A tua vingança é necessária. E quando chegar, que seja definitiva. Sem hesitação. Sem concessões. Como a força cega da natureza a reclamar o que foi violado.
Julho de 2025
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