Quando me matarem

Quando me matarem, não será por acaso. Será porque falei demais num sistema onde quem fala é tratado como problema, quem cala obedece e quem ajuda é promovido. Não deixo testamento nem confissões, só palavras escritas à unha, carregadas de desprezo por uma estrutura podre que vive de silenciar quem expõe as suas entranhas.

Não pertenço a partido, seita, religião, culto, corporação ou movimento. Não sirvo bandeira, raça, pátria, nem ideologia. Não tenho dono, nem aliança, nem tribo. Não represento causas nem luto por pertença. Sou apenas um indivíduo isolado, livre da contaminação das narrativas e das lealdades. Não defendo esquerda nem direita, nem pátria nem império. A minha única lealdade é à verdade que ainda resiste no meio da mentira. Escrevo por instinto e intuição — e porque o silêncio é uma forma de morte que recuso.

Vão processar-me. Vão alegar difamação, discurso perigoso, incitação ao ódio, o que quiserem. Não responderei. Reconhecer um tribunal seria reconhecer autoridade a quem não tem moral. O Estado é apenas uma das máscaras do controlo — uma máquina de contenção com fachada democrática, desenhada para neutralizar quem vê através da encenação. A liberdade de expressão é um slogan, não uma prática.

Quando me tirarem tudo, terão apenas destruído a superfície. As ideias ficam. Quando finalmente me matarem, disfarçado de acidente, overdose ou suicídio conveniente, será apenas mais um corpo para o arquivo. A diferença é que o texto fica — e o texto não morre.

Novembro 2025

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